sábado, 27 de outubro de 2007

InquietudE

Escoras na amotinada verdade, na sombra que projectas no calcar da terra, no querer do teu coração, no suster do grito que ecoa em cada fibra da tua paixão, tremida amálgama é aquela, ou aquele, que aparou cada pena da tua asa sem prudência, que abandonou a tua alma na íntima carência, na aleivosia de uma menina que mais não quis senão voar no dorso da fantasia. Caminhas no vil ruído da nua parede, no extenso basalto que reflecte a essência da tua ferida alma, nas pedras amontoadas sem conexão, assim te sentes, abandonada na sórdida calma, no voraz desamparo da tua incendiada escuridão. Escuta! Escuta o espírito das pedras, também elas são folha caída da ramagem da vida, saibas, que o amor espera no vento, na fruta colhida na certeza de cada tempo, todos somos, viajantes de olhar vendado, figura tecida pelo cordão do destino, sino que ressoa na imprevisão do seu balanço, pêndulo de uma pulso desmaiado, febre que vacila na noz, num peito que sofre em remanso. És cicatriz em fuga, estátua de uma lágrima tua, alma que sulca o perdido, que desafia o ocaso, mar, chuva e luar, és sol da manhã, inquietude à beira da loucura ficar, maresia, fogo, chama acesa de mágoa afagar. Desobedeces aos mandamentos da paixão, onde fias e bordas o avesso da razão, conquistas a luz do azul infinito, o segredo que adensa no contorno trilhado pelo xisto, no pão que alimenta o teu corpo e se deita nas madeiras do sol, num lençol de amarga água, manto de temperada mágoa. Foges da vida mas, não do pensamento, da sensação que padece na estátua que te cobre de sofrimento. As pedras não sabem quem és, mas segredam-me, que és eterna, que amanhã soltar-te-ás dessa tristeza incrustada, és pertença do sonho, divina, alma jamais esquecida, jamais ao abandono largada, jamais pelo sono vencida…

domingo, 14 de outubro de 2007

LibertaçãO


Não tenhas medo do vazio, o vácuo não é senão, palco de uma utopia há muito desvanecida, embala-te na ternura da minha mão, numa súplica há muito por ti proferida, solta-te do elo que te prende a esse precipício, espraia-te no lume sentimento dos meus dedos, numa tarimba que mais não é senão, divino âmbar de um solstício. Confia nas minhas sentenças, não te deixes acorrentar pela vulgar fraqueza, pelo cansaço das corriqueiras crenças, deixa a inércia apossar-se da tua incerteza, queda-te no abismo, no meu alento, abandona o cismo, crê na fala do meu vento, vem, adormece na tela que te prometo, na tinta que afago em cada compasso do teu coração, flúi na asa do meu pensamento, repousa no meu colo, no peito que há muito espera em crucificação, neste abrigo que há muito anseia a tua singela aparição. Venero cada arco da tua postura, garça eterna, verídica loucura. Invejo a seda que esvoaça e ameiga a tua pele, ah, ciúme que é este, ah, sabor que me amarga como fel, invejo tudo que te possa tocar, sentir, e até olhar, sê alma minha duma vez, para em todas as auroras agradecer a Deus pela dádiva de poder olhar-te a acordar, admirar o raiar das ondas nas tuas Lagoas, o rio que rasga a fronteira do teu alegrar, cada nota que ecoas, queria eu ser somente, aquele a quem se destina cada movimento do teu regozijo, ser nome que ocupa o coração do teu juízo. Solta-te do miradouro, cai do céu como um pelouro, e repousa para sempre na barca que te espera, neste corpo aterra, no coração que é meu, mas que te pertence...

sábado, 6 de outubro de 2007

Guardiã dos Perdidos


Existe um Anjo, uma alva pluma que voluteia nas asas do desejo, uma flor, de perfeita e divina cor, suave é o riacho, que desfralda a sua alma no querer da mais pura constelação, que despe a pureza da estrela no tocar da sua delicada sedução, és alma de sagrado cortejo, pluma delicada que voa na asa de um cadenciado beijo. És eterno Anjo, Guardiã dos Perdidos, que no sonho andam sumidos, das almas confusas, diurnas e taciturnas, errantes carneiros de vaguear combalido, tristes são, aqueles que se perdem no fio da razão, amargo é, aquele que sente o amasso por caminhar à deriva da própria fé. Cândida criatura, etérea redentora dos rebanhos que pastam nas serras da perdição, pássaro descalço de humilde resplendor, borboleta consumida no desígnio que carrega na mão, em dias que voam, ventos que escoam, sentes que és tela fugidia, paleta isenta de cor, padecida é, a sensação que trespassa cada filamento do teu bondoso coração, por vezes, tu própria, sentes o tormento de caminhar no disperso mas, repousa menina, a quem grandes intentos são destinados, dolentes e inerentes fardos são inocentemente passados. Lembra-te, Anjo do Olimpo, és protectora de náufragos marinheiros, daqueles rumaram nas rotas submersas da sua consciência, cépticos cordeiros, és asa que ampara um moribundo coração com a tua sombra, farol que irradia esperança ao olhar vagabundo que mareia na penumbra, és Norte, Sol de angélica sorte, queria eu somente, encontrar-te sempre, avistar-te quando caminho perdido, quando nos labirintos da minha alma vagueio em esconderijo, queria eu, o rumo da tua chama contemplar, para saber no abismo da minha perdição, que no mais sombrio tempo, no mais áspero vento, salvo serei ao avistar...o Anjo da Redenção...

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Feitiço de um destinO


No norte, existe uma Luz que beija em silencio os lábios das gélidas montanhas, que transmuta a planície de gelo num cintilante mar de cristal, além, onde os pirilampos alumiam o crepúsculo céu, onde as borboletas namoram a cristalina brisa, gravita uma aluada feiticeira, uma dama de prateado véu, de negras e místicas sardas, olhar sorrateiro, de sorrir soalheiro, uma imensa Lua, lágrima fosforescente de uma meiga loucura. Magnetizante é o vértice do seu olhar, seduzido é o seu cálido brilhar, encantadas são, as criaturas que moram no feitiço do seu coração. É, na quietude da noite, ao soar as doze badaladas, que ela assume um paralela forma. Num momento à deriva no tempo, ela irrompe num molde divino, que entorpece cada gota, cada fibra do meu ser, dormente é seu olhar, é sabre que me abre e trespassa a alma, chuva que me banha e dilata o coração numa mescla de sentimentos, quem és, alado astro de negros filamentos? Em cada arco do seu corpo vislumbro perfeição, em cada sombra a bonança da sua paixão, queria eu, ser brisa para lhe amaciar, estrela para lhe alumiar, queria eu ser somente, um eterno reflexo no seu olhar. Ela, ostenta a cintilação do Universo, as leis da criação, por ela, daria cada letra dos meus versos, cada lágrima do meu coração, eu, mergulharia ao mais negro abismo para lhe salvar, eu, abdicaria da minha vida para no seu seio uma única vez repousar. Nos seus olhos cintilam as cores do passado, as mágoas do presente, um destino desejado na mão do infinito firmamento. Queria eu, ser somente, um passarinho na sua delicada mão, um mensageiro do nosso amor, queria eu, ser asa do nosso destino, ser pluma a voar na eternidade do teu coração …